sexta-feira, 24 de abril de 2015

Eclético

Eclético, sim!
Assim me considero

Quer dizer que tenho gostos
Que variam de padrão
Gosto de uma boa música regional
Como frevo ou baião
Ou gosto de punk rock
Tocado por um alemão

Quer dizer que eu experimento
Que busco novas vivências
Gosto do que é bom só por ser bom
Seja barroco, clássico ou pós-moderno
Vou de Machado a Castro Alves
Contemplo Zizo e ouço Miró

Não implica, no entanto,
Como alguns esperariam
Que eu adira à onifagia
Pela qual muitos consomem
Qualquer uma porcaria

Também não quer dizer
Que eu caio na normose
De cultuar os Deuses
Heróis e outros mitos
Da cultura massificada

Eu quero muito mais!
Mais do que o mito eterno
De um músico que não se recria
Mais do que o brilho efêmero
Que só dura enquanto a mídia alumia

Sou eclético,
E sinto falta de sangue novo:
Literatura e artes visuais
Música, teatro e outras mais
Arte errante, em toda parte
Obscurecida pela imposição
De uma produção medíocre
Ou enfraquecida pela falta da união
Dos artistas esquecidos
Que já não se comunicam mais

Pablo de Araújo Gomes, 24 de abril de 2015

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Haikais - Vida Intensa e outros...

Vida Intensa

Intensamente
Vivendo sem reservas
Morreu mais cedo


Modéstia

A humildade
Foi para longe dali
Mudou-se pra cá



quarta-feira, 12 de março de 2014

Recife

Recife
Cortada por rios, envolvida pelo mar
Cidade de pontes e viadutos
Capital do meu Pernambuco

Recife
Cidade que nasceu pelo comércio
Pela guerra se fez autônoma
E virou capital do Nordeste

Recife
Líder de revoltas e revoluções
Foi a primeira cidade a se declarar
Livre de coroas alheias

Recife
Cidade brotada da lama do mangue
Incrustada de palafitas
Que jamais perdeu a cultura do subumano

Recife
Que não é culta, mas é rica
Que não cheira bem, mas é bela
Que precisa de restauração

Recife
Terrinha quente e ensolarada
De clima úmido, até molhado
Cunhada para não se sair da praia

Recife
Ganhaste teu nome por afundar navios
Viraste porto seguro contra invasões
E teu mar habitat de tubarões famintos e vorazes

Recife
Tudo o que tenho a dizer assim se resume:
Diamante bruto a ser lapidado
Lugar impossível de não ser amado


Pablo de Araújo Gomes, 12 de março de 2014

sábado, 8 de março de 2014

Minha Mulher

Minha mulher
Minha?
Não és mais minha do que sou teu
E sabemos bem
Que ninguém pertence a ninguém
Mas, digo “minha”
Por estares tão dentro de mim
Irremediavelmente
Minha mulher
Minha?
Tamanha ousadia seria crer te possuir
E você bem sabe
Que você é forte e livre
Mas digo “minha”
Por, livre, caminhares ao meu lado
Por, forte, persistires do meu lado
Minha mulher
Minha?
Petulância, talvez, nisso insistir
És demais preciosa para querer-te minha
Mas, digo “minha”
Como modo de me lembrar
Quão afortunado eu tenho sido
Sim, senhora, digo e repito
Minha mulher
E o destaque que deve ser ouvido não é no pronome
Mas, no forte substantivo que o acompanha
Pois és para mim muito mais do creio eu ser capaz
Mas, não és menos do que lutarei por superar
Não por qualquer disputa estúpida
Não sou tão infantil
Mas, porque não pretendo te dar
Nada menos do que mereces
Minha mulher,
Parabéns pelo seu dia
Todo dia

Pablo de Araújo Gomes, 08 de março de 2014

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Preto e Branco

Eu não vejo o mundo em branco e preto

O verde, o azul, ou o amarelo,
O vermelho, o rosa ou o roxo,
Lilás, laranja e outras cores
Também povoam minha visão

Eu não vejo o mundo em preto e branco

O amigo tão leal, e a mulher com que casei
A amiga da escola
E o padrinho que sempre admirei
Pretos, brancos, pardos...
Em que influiu a cor? Em nada.
Verdade seja dita,
Nem sempre reparei

Eu não vejo o mundo em branco e preto

A sexualidade é íntima
A afetividade é pessoal
Não afetam meu carinho
Por quem não quero em matrimônio
Ou levar à minha cama

Eu não vejo o mundo em preto e branco

Nem tudo é óbvio
As coisas em geral não o são
As diferenças existem, não o nego
Mas, nem sempre importam
Algumas diferenças não influem

Eu não vejo o mundo em branco e preto

Diferenças há, e não as nego
Por que têm que resultar em desigualdade?
Se não são importantes, ao menos para mim,
Por que às vezes ressaltar?
Fato é que já se fez a desigualdade
E a união equânime dos diferentes só se dá
Quando, juntos, transformarmos
Todo o desigual em equânime

Porque o mundo não é preto e branco

Mas, sem todas as cores,
Se ao menos uma só faltasse,
Ou se suas variações não existissem,
Que mundo sem graça seria!
Sem a união de todas as cores não há o branco
Sem a luz que o contraste, não há o preto
Sem preto e branco, não há cinza
E sem o preto ou o branco nem mesmo há
Como ver o mundo
Em preto e branco!