quinta-feira, 8 de maio de 2008

Mórbida Vampiresca

Uma mão afaga, doce, meu pobre coração
Não há calor humano nessa ação
Calafrios me provocam os dedos gélidos da mão
E detém-me, cordialmente, a solidão

Nesse ínterim, pressiona-me um abraço
Aperta tanto que não sei mais o que faço
Esse tenebroso amplexo é derradeiro passo
Pra chegar a dor da morte ao meu encalço

Sinto, então, que um beijo manso me congela
E me suga corpo afora a alma
Mas do corpo a consciência não se apaga
E eis que em carne vita estranha se instala

Vida fúnebre, a de um corpo sem a alma,
Vaga esta insone, incalma,
E à matéria, pra poder alimentá-la,
Amputa este corpo, de outros corpos, suas almas.

Pablo de Araújo Gomes, maio de 2008