segunda-feira, 1 de março de 1999

O sertanejo e a gota

Uma gota d'água,
A simples gota, puro pingo
Que escorrega na vidraça,
E resiste como nenhum outro
À evaporação que a deteriora
Após chuva tão escassa!

Quem me dera esse pingo,
Caísse em minha boca sedenta,
A míngua em minha boca!

E se essa gota,
Por um momento,
Me ceder o afeto
De escorrer em meu corpo,
É esta, meu Deus, que me banha a alma!

E há outra gota,
Escorre agora em meu rosto,
Uma gota de dor,
Da saudade d'água que me domina...

Como quero a gota,
As do conta-gotas não são iguais!
Se pudesse alcançá-la, ao menos,
Mas fico a assistir a seca, assim, inglório.

E mais à frente goteja,
A goteira, a cachoeira?
Não. Prefere a gota descer a vidraça,
E parece que em câmera lenta, a aflição do sertanejo
Em ver aquela gotícula perder-se em areias secas.

E grotesca parece a imagem
Do sertanejo que se joga contra a gota d'água,
Não muito distante do rio...
Pois proibiram-no de se aproximar do São Francisco.


Pablo de Araújo Gomes, alguma noite de 1999

quarta-feira, 10 de fevereiro de 1999

Fascinado Por Ti

Teus olhos negros,
Palpitantes, poderosos...
De um poder que me fascina

Tua pele,
A qual nunca tive a bênção de tocar,
É bela como tu,
E me parece mais macia
Que a mais macia ceda oriental

E que para amar-te
Como te amo,
Não muito custa,
Apenas ver-te como te vi
Encontrando sempre paz
Em tua presença

Fazes-me ameno, e louco,
E és mais rara que o mais belo
E mais valioso diamante

E, ao indagar-me quem és,
Só chego a uma ilação:
Tu és aquela que não sabe
O quanto reina em meu coração

Pablo de Araújo Gomes, fevereiro de 1999



Ah! os velhos tempos, o amor adolescente, platônico, inofensivo... eu não tinha nem 14 anos de idade... bons tempos aqueles! A gente nessa fase tem a ingenuidade de pensar que sofre, que tem problemas. E tem, às vezes, mas não sabe o que a vida nos reserva no futuro, né?